VOCÊ NAO É GAY O SUFICIENTE (um poema da Ashley sobre um assunto difíci de engolir)
A algum tempo algo vem me incomodando: minha orientação sexual/romântica.Achou o problema dessa frase? Não? Pera que eu vou mostrar. Mais uma vez:
A algum tempo algo vem me incomodando: minha orientação sexual/romântica.
Achou agora? Pois é. Essa palavra. Incomodando.
Você concorda que não era pra eu me incomodar com essa parada? Que era pra eu me encontrar, e encontrar outros iguais a mim e me sentir parte? Eu realmente acho que não era pra me incomodar nem um pouco. Faz um tempo que eu queria escrever sobre isso, mas todas as minhas tentativas saíram E R R A D A S. Essa é outra palavra pra que vem sendo atirada na minha cara. É difícil criar coragem e por pra fora desse jeito.
Bom, eu sou uma ratinha de youtube e hoje eu tava sambando por lá, procurando videos que pudessem me esclarecer sobre o dito cujo assunto e eu passei pelo canal da Ashley Mardell (é gringo gente, videos em ingles). gente.do.céu.JPEG. Foi de explodir cada pedacinho da minha cabeça até virar pó. Foi um mix de sentimentos que eu vou levar um tempo pra digerir.
Eu não vou me demorar. Eu trouxe hoje um poema escrito por ela que eu traduzi
obs.: desculpemm mesmo se a tradução não ficou 100%. Dei meu melhor.
VOCÊ NÃO É GAY O SUFICIENTE - Por Ashey Mardell
"Eu gostaria de te contar
duas histórias: nada aterrorizante, nada glorioso, mas pequeno e simples como
um cisco (?); mas um cisco que traz um arrepio e me induz a um desconforto,
profundo e intenso, sempre que eu me lembro que ele existe.
Primeiro, imagine isso: eu
estou descansando no meu sofá, na sala de estar da minha casa, pronta pra ir
para (segura essa) minha primeira parada gay. Eu estou muito feliz,
animadíssima por que eu tenho uma confissão: todos os meus amigos, que amo
muito, bem, ele são um grupo de héteros com todos os mínimos detalhes, e eles
não entendem muito bem o meu sofrimento, meus desejos, a sensação de ser “outro”
que me esmaga nessa sociedade dominada e saturada de heterossexualidade. MAS,
em aproximadamente 1h 42min e 16s tudo isso vai mudar.
Finalmente as mesas vão ter
se invertido e eu vou ser capaz de olhar pra esquerda, olhar pra direita e
sentir a dor ir embora enquanto sou bombardeada de arco-íris, gliter e pra todo
lado gay, gay, gay! Eu vou estar junto com o MEU TIPO! Eu admito... Soa um
pouco estúpido. E é meio burrice, mas a parada foi o “Natal Gay” que eu esperei
durante todo ano; e a antecipação pra abrir esse presente incrivelmente
fabuloso não era real.
Sinto meu telefone
vibrando:
- Oh! Kristen and Kelly vão vir. (Uh, podemos substituir por algo do tipo: “é, nós não queremos ser aquele grupo de pessoas hétero que só vão pelo role.”.)
Um calor cor de rosa toma conta do meu rosto:
- Oi?
- Você sabe, a gente vai se encaixar melhor com eles. Sabe?
- Não.
- Sabe, vai ser estranho ir pra parada sem alguém realmente gay.
Pausa. Encaro. Sério? Eu finjo que não ofendeu.
- Mas eu estou indo com vocês. Eu estarei lá. Eu.
A tensão no rosto dos meus amigos some quando eles entendem a minha confusão:
- Pffff, você não conta, Ashley, você está saindo com Path (homem).
Eu congelo. EU NÃO CONTO.
- Oh! Kristen and Kelly vão vir. (Uh, podemos substituir por algo do tipo: “é, nós não queremos ser aquele grupo de pessoas hétero que só vão pelo role.”.)
Um calor cor de rosa toma conta do meu rosto:
- Oi?
- Você sabe, a gente vai se encaixar melhor com eles. Sabe?
- Não.
- Sabe, vai ser estranho ir pra parada sem alguém realmente gay.
Pausa. Encaro. Sério? Eu finjo que não ofendeu.
- Mas eu estou indo com vocês. Eu estarei lá. Eu.
A tensão no rosto dos meus amigos some quando eles entendem a minha confusão:
- Pffff, você não conta, Ashley, você está saindo com Path (homem).
Eu congelo. EU NÃO CONTO.
Eu sinto um “crack” partir
meu coração: uma parte tão imensa da minha identidade, um aspecto massivo de
Ashley, um tanto tão grande do que eu significo, tudo isso instantaneamente
destruído por três palavras: EU NÃO CONTO. Eu não conto. Aparentemente o que eu
sinto por alguém de um gênero, invalida a minha capacidade de amar outro.
Evidentemente eu não tenho características “diferentes/estranhas” o suficiente pra
me chamar de LGBT. Então, ao que parece, ser B não é suficiente, tenho que
ganhar a chave, um lugar, pelo menos é o que os meus amigos heteros dizem...
Mas pra ser honesta, não
são somente meus amigos heteros que tem lapsos momentâneos de julgamento: um
ano atrás, estou sentada num bar quando uma Queen
coloca a mão no meu ombro e diz:
- Oh, eu espero que vocês, meninas, estejam se divertindo. Eu adoro quando garotas como vocês vêm e demonstram seu apoio.
Eu nem pedi esclarecimento. Eu sou bombardeada com uma onda de raiva. Eu respondo:
- Oh, não. Eu não sou hétero.
Ela duvidosamente retira:
- Oh! Você parece.. Eu jamais adivinharia.
- É, mas eu sou gay. Super, duper gay. GAY GAY GAY – eu disse.
- Oh, eu espero que vocês, meninas, estejam se divertindo. Eu adoro quando garotas como vocês vêm e demonstram seu apoio.
Eu nem pedi esclarecimento. Eu sou bombardeada com uma onda de raiva. Eu respondo:
- Oh, não. Eu não sou hétero.
Ela duvidosamente retira:
- Oh! Você parece.. Eu jamais adivinharia.
- É, mas eu sou gay. Super, duper gay. GAY GAY GAY – eu disse.
E nem é verdade. Eu, com
certeza, não sou hétero, mas eu acabei de me tornar uma mentirosa? Por utilizar
um termo melhor qualificado, que poderia
ter sido Pan, Bi, Fluido, no meio do espectro, Queer, mas preferi perpetuar
estereótipos problemáticos.
Vindo da minoria dos meus
amigos, ou da maioria heterossexual, nós precisamos dar prioridade a aceitar
outras orientações que não são “homo” ou “hetero”. Essa borracha que apaga o B
corta como um laser e me deixa sem uma
casa. Junto com meus amigos heteros, em bares gay, e até mesmo na parada –
um lugar pra aqueles que não se encaixam no mainstream
hétero vão pra se sentir parte – eu
estou excluída. E eu estou cansada disso.
Então, sem hesitar, eu me
levanto orgulhosa, removendo o cisco enquanto mando uma mensagem: não existe “soa
como gay”, “se parece como gay”, “tipo gay”, meu gay não pode ser medido, meu
BI não diminui quando eu namoro um homem, e sua legitimidade não aumenta quando
estou com Grace, minha namorada. EU SOU GAY O SUFICIENTE.
Gay o suficiente pra ir pra
parada. Gay o suficiente pra ter uma namorada. Gay o suficiente pra usar cabelo
comprido, nunca ter assistido um episódio de “The L Word”, odiar esportes e não
saber nada sobre “The Sarah’s Song” por que, quando o dia termina, eu amo
mulheres. E essa, é uma das coisas mais gay que uma mulher pode fazer. E eu deveria me sentir gay o suficiente pra
fazer parte da comunidade. Então me ajude.
Me ajude abrindo sua mente
pra possibilidade de que eu seja exatamente como você mesmo que eu não me
encaixe nos estereótipos. Pare de assumir que eu não pertenço e comece a
celebrar a minha presença, livre de julgamentos. Aceite a minha identidade Bi,
Pan ou não-binário, e não deixe que me invalide, ou invalide meus sentimentos
por você. Me ajude fazendo com que eu sinta que não precise mudar, que assim,
do jeito como eu sou, que eu sou suficiente"
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